sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Eu tinha 13 anos, em Fortaleza, quando ouvi gritos de pavor. Vinham da vizinhança, da casa de Bete, mocinha linda, que usava tranças.
Levei apenas uma hora para saber o motivo.
Bete fora acusada de não ser mais virgem e os irmãos a subjugavam em cima de sua estreita cama de solteira, para que o médico da família lhe enfiasse a mão enluvada entre as pernas e decretasse se tinha ou não o selo da honra.
Como o lacre continuava lá, os pais respiraram, mas a Bete
nunca mais foi à janela, nunca mais dançou nos bailes e acabou fugindo para o Piauí, ninguém sabe como, nem com quem.

Eu tinha apenas 14 anos, quando Maria Lúcia tentou escapar, saltando o muro alto do quintal da sua casa para se encontrar com o namorado.
Agarrada pelos cabelos e dominada, não conseguiu passar no exame ginecológico.O laudo médico registrou vestígios himenais dilacerados, e os pais internaram a pecadora no reformatório Bom Pastor,
para se esquecer do mundo.
Realmente; esqueceu, morrendo tuberculosa.
Estes episódios marcaram para sempre e a minha consciência e me fizeram perguntar que poder é esse que a família e os homens têm sobre o corpo das mulheres?

Ontem, para mutilar, amordaçar, silenciar.
Hoje, para manipular, moldar, escravizar aos estereótipos.
Todos vimos, na televisão, modelos torturados por seguidas cirurgias plásticas.
Transformaram seus seios em alegorias para entrar na moda da peitaria robusta das norte americanas.
Entupiram as nádegas de silicone para se tornarem rebolativas e sensuais, garantindo bom sucesso nas passarelas do samba.

Substituíram os narizes, desviaram costas, mudaram o traçado do dorso para se adaptarem à moda do momentoe ficarem irresistíveis diante dos homens.
E, com isso, Barbies de facaria, provocaram em muitas outras mulheres - as baixinhas, as gordas, as de óculos - um sentimento de perda de auto-estima.
Isso exatamente no momento em que a maioria de estudantes universitários (56%) é composta de moças.
Em que mulheres se afirmam na magistratura, na pesquisa científica, na política, no jornalismo.
E, no momento em que as pioneiras do minismo passam a defender a teoria de que é preciso feminilizar o mundo e torná-lo mais distante da barbárie mercantilista e mais próximo do humanismo.

Por mim, acho que só as mulheres podem desarmar a sociedade.
Até porque elas são desarmadas pela própria natureza.
Nascem sem pênis, sem o poder fálico da penetração e do estupro, tão bem representado por pistolas, revólveres, flechas, espadas e punhais.
Ninguém diz, de uma mulher, que ela é de espadas.
Ninguém lhe dá, na primeira infância, um fuzil de plástico, como fazem com os meninos, para fortalecer sua virilidade e violência.
As mulheres detestam o sangue, até mesmo porque têm que derramá-lo na menstruação ou no parto.

Odeiam as guerras, os exércitos regulares ou as gangues urbanas, porque lhes tiram os filhos de sua convivência e os colocam na marginalidade, na insegurança e na violência.
É preciso voltar os olhos para a população feminina como a grande articuladora da paz.
E para começar, queremos pregar o respeito ao corpo da mulher.
Respeito às suas pernas que têm varizes porque carregam latas d’água e trouxas de roupa.
Respeito aos seus seios que perderam a firmeza porque amamentaram seus filhos ao longo dos anos.
Respeito ao seu dorso que engrossou, porque elas carregam o país nas costas.

São as mulheres que irão impor um adeus às armas, quando forem ouvidas e valorizadas e puderem fazer prevalecer à ternura de suas mentes e a doçura de seus corações.
“Nem toda feiticeira é corcunda.
Nem toda brasileira é só bunda.”

- Rita Lee

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Foda-se

1° dia (5ª feira): Uma dor de cabeça de merda, dor ao virar aos olhos, fotofobia, febre baixa, desânimo, depressão, falta de apetite.

2° dia (6ª feira): Febre, dor de cabeça, uma espinha que coça mais do que o comum. A noite vem chegando, e as espinhas vão se multiplicando.

3° dia (Sábado): Você é A Mosca. Você acorda com a cara toda pocada e entra em depressão, não quer se olhar no espelho, não consegue dormir a noite devido a intensa coceira e começa a chorar. Perde toda a sua motivação, sua única vontade é se atirar da primeira janela que vê.

4° dia (Domingo): De manhã, você se sente um pouco melhor, a coceira deu um certo alivio, mas só por causa do anti alérgico que você tomou ontem. Fica achando que seu rosto deu uma melhorada, mas porra nenhuma. Mais tarde, as feridas "pocadas" no dia interior que coçaram mais do que qualquer picada de borrachudo multiplicada por 20, arderam e queimaram a noite inteira tornando impossível de você dormir, vão virando uma casquinha preta e começam a ficar doloridas. De repente, mais perebas começam a nascer na sua cara, pernas e barriga, e vão formando aquela bola nojenta com um líquido horroroso dentro que me dá vontade de vomitar toda vez que o olho, provavelmente, amanhã irá pocar. Então, no seu corpo tem feridas cicatrizando, feridas brotando, feridas indo embora, feridas chegando, etc... A noite você tem uma baita febre e acha que vai morrer, toma um tylenol, deita no quarto dos seus pais, Faustão está intrevistando Ana Maria Braga, você, delirando em febre, acha que está de manhã, pergunta seu pai que horas são e ele fala: - 08 - da manhã? - da manhã??!!
Você toma um banho, a febre passa e você se esquece que isso aconteceu e aí depois vai dormir.

5° dia (2ª feira): De manhã, qualquer coisa que você engole, parece que arranca metade da sua garganta fora, e uma parte da língua. Mais tarde, você percebe que não tem mais perebas malditas nascendo, e fica feliz, mas aí as que nasceram ontem, começam então a pocar, e então vem aquela coceira infeliz. As que nasceram no 3° dia já estão estouradas e doem por qualquer coisa. Seu rosto agora está cheio de pontos pretos e, felizmente, não está tão medonho e nojento quanto antes.

6° dia (3ª feira): O 5° dia foi um dos primeiros dias que você se sentiu disposto a fazer alguma coisa, então ficou na internet até meia noite, mesmo morrendo de sono por não ter dormido na noite passada. Quando vai dormir, seu gato escandaloso acorda, pula na sua cama e começa a querer morder seu braço cheio de brotoejas, você empurra ele, e temperamental do jeito que ele é, começa a subir nas coisas, derrubar tudo e miar que nem um louco. Você acorda com sono, o permanganato acabou e as cataporas não mudaram muito de um dia pro outro.

7° dia (4ª feira): Você acorda com uma dor esquisita na nuca e fica logo achando que a doença evoluiu para uma coisa pior. Depois de surtar, toma um tylenol que alivia um pouco a dor e aí relaxa. Não resiste em tirar as casquinhas do seu rosto, e as malditas brotoejas dos seus braços, corpos e pernas AINDA estão secando, o que te deixa muito puto.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

I'm jaded



Foto tirada por Cassini-Juygens, uma nave espacial não tripulada, em 2004, ao chegar aos anéis de Saturno. Ó lá nós no fundo... grande, não?